Cunhada por ninguém menos que Will Eisner, a expressão arte sequencial insere os quadrinhos em toda uma história das artes visuais em que há necessidade de uma certa sequencialidade.
McCloud avança na descrição de tal arte sendo:
“elementos pictóricos e outras imagens justapostos em sequência deliberada, pretendendo transmitir informação e/ou produzir uma resposta estética no observador”
No original, “…juxtaposed pictorial and other images in deliberate sequence, intended to convey information and/or to produce an aesthetic response in the viewer.” MCCLOUD, Understanding Comics, 1993, p. 9.
Essa definição, tornada clássica, ainda é bastante discutível. Vide o bate-boca no Twitter alimentado por dois de nossos redatores – até então, apenas arrobas tomando suas posições no ringue dialético. Não é muito por acaso, portanto, que ambos participem, hoje, de uma mesma Balbúrdia.
A primeira discussão envolvendo OS MESMOS (editado: ELES) e sobre o assunto, datava de 2012. Em 2014, @kamiquase já tinha boa parte da tese pronta, e formulam (14 de abril, motivados por um texto de Érico Assis e uma intervenção de Eduardo Nasi):
@lielson: a definição do McCloud tem um problema: o que ele descreve pode ser o cinema também (mas o espaço aqui é curto).
@kamiquase: ela acaba sendo abrangente demais. Chega a ser anacrônica, incluindo vitral etc..
Além disso, essa definição não abarca diversas outras formas de quadrinhos realizados desde que “quadrinho é quadrinho”.
Na definição do teórico Pierre Fresnault-Deruelle (autor, por exemplo, de livro sobre Hergé), o dispositivo das histórias em quadrinhos seria fator de sua potencialidade poética, por invocar diferentes temporalidades sobre uma mesma topografia – por reunir (assembler), o que seria, por princípio, justaposto.
A justaposição de imagens sobre uma página em quadrinhos é chamada de “artrologia” (arthrologie) pelo teórico Thierry Groensteen (o termo original designa o estudo das articulações anatômicas de um corpo). O fundamento dos quadrinhos seria “pôr em relação uma pluralidade de imagens solidárias”. À diferença dos postulados pelos americanos, os dois teóricos franceses apostam na articulação em um mesmo espaço, não necessariamente com a ideia de fundar uma sequência.
Tal especificidade, de articular elementos em um dado dispositivo, é mais próxima da página de quadrinho, e englobaria até mesmo a abstração em quadrinhos, por exemplo.
A que vos escreve, @kamiquase, fiz uma tese sobre um quadrinho cuja disposição de seus elementos questionam justamente toda essa ideia de sequência. Não vou me alongar aqui sobre isso, já me alonguei ali: é a ideia do espaçamento, inerente também à ideia de escrita, que nos faz articular as imagens diferidas sobre a página, que faz acordar os elementos entre si*. Diferentemente da escrita, no entanto, os quadrinhos têm um caráter menos simbólico (a letra é uma abstração pura). Por outro lado, na escrita, a necessidade de sequência é muito mais importante que em uma página de quadrinhos…
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